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Uso noturno de telas agrava o sobrepeso e a obesidade em crianças e adolescentes



Os dispositivos móveis, principalmente os celulares, já fazem parte do cotidiano da população brasileira. No ano de 2022, 86,5% das pessoas com dez anos ou mais de idade tinham telefone móvel celular para uso pessoal, de acordo com o módulo Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) da PNAD Contínua, pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).  

 

No recorte para a faixa etária de dez a 13 anos, o percentual de crianças e adolescentes que têm celular chegou a 54,8% no mesmo ano. A facilidade de acesso a jogos, redes sociais e outras formas de entretenimento digital faz com que muitas crianças e jovens permaneçam por longas horas na tela, inclusive na parte da noite. Esse hábito afeta não apenas o sono, como também está associado a escolhas alimentares menos saudáveis. 

 

Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) indica que o uso noturno de dispositivos eletrônicos está diretamente ligado a uma série de comportamentos prejudiciais à saúde, incluindo a adoção de uma dieta inadequada. Ele é parte de um estudo realizado desde 2002 na cidade de Florianópolis, com o objetivo de monitorar a incidência de excesso de peso em crianças e adolescentes, além de entender quais fatores estão associados a ela. Desde a primeira edição, o estudo da UFSC apresenta uma crescente nas taxas de sobrepeso e obesidade, passando de 30% em 2002, para 34% nos dados mais recentes.  

 

A pesquisa contou com a participação de 1400 crianças e adolescentes entre sete e 14 anos de idade, com e sem excesso de peso, e estudantes de escolas públicas e particulares da cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina. As informações foram coletadas pelo formulário Consumo Alimentar e Atividade Física de Escolares, aplicado entre os anos de 2018 e 2019, que trazia perguntas sobre hábitos cotidianos dos participantes.  

 

 

Mas como as telas interferem na alimentação? 

 

O brilho azul emitido por telas de celular, tablets e computadores pode interferir na produção de melatonina, o hormônio responsável por regular o ciclo do sono. A supressão da melatonina não só dificulta o início do sono, como também pode levar a uma sensação de fadiga durante o dia, afetando o metabolismo e aumentando a propensão a consumir alimentos ricos em açúcar e gordura, na tentativa de obter energia de forma rápida. 

 

Além disso, o uso de dispositivos móveis à noite muitas vezes ocorre em um contexto de sedentarismo, o que contribui para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade infantil. Estar acordado até tarde também aumenta as oportunidades de ingestão de lanches noturnos, geralmente escolhidos pela praticidade e apelo sensorial, como salgadinhos, doces, refrigerantes, além de outros alimentos ultraprocessados. 

 

Outro fator preocupante é a influência da publicidade online direcionada a esse público. Crianças e adolescentes são bombardeados por anúncios de alimentos ultraprocessados enquanto navegam na internet ou utilizam aplicativos. Esses anúncios, muitas vezes projetados para atrair a atenção dos jovens, podem influenciar nas escolhas alimentares, promovendo a preferência por produtos menos saudáveis. 

 

As consequências de uma dieta pobre em nutrientes são vastas, incluindo não apenas o aumento de peso, mas problemas de saúde a longo prazo, como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardiovasculares. Pode haver impacto também no desempenho escolar e acadêmico, pois uma alimentação inadequada é capaz de interferir na concentração e aprendizado dos estudantes. 

 

Para mitigar esses efeitos, Patrícia Hinnig, pesquisadora e uma das autoras do estudo UFSC, destaca a necessidade de orientação no ambiente escolar sobre o uso de telas e a alimentação saudável. Além disso, é essencial que os cuidadores de crianças e adolescentes estabeleçam limites claros quanto ao uso de dispositivos eletrônicos. Promover uma rotina noturna que encoraje desligar os aparelhos pelo menos uma hora antes de dormir pode ajudar a melhorar a qualidade do sono e, por consequência, as escolhas alimentares. A inclusão de atividades que ajudam a desacelerar, como a leitura ou técnicas de relaxamento por meio da respiração, pode substituir o uso de eletrônicos antes de dormir. 

 

A próxima edição do estudo sobre o excesso de peso em crianças e adolescentes de Florianópolis está prevista para 2025 e será a primeira realizada após a pandemia de Covid-19. 

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