No contexto do recente Dia Mundial da Conscientização contra a Obesidade Mórbida Infantil, celebrado em 3 de junho, é urgente darmos atenção ao tema. Atualmente, uma em cada três crianças brasileiras apresenta sobrepeso ou obesidade. No ritmo em que estamos, até 2035, o país pode chegar a ter metade das crianças e adolescentes com excesso de peso, de acordo com o Atlas da Obesidade de 2024.
O aumento de peso da população infantil e jovem do país tem feito com que muitos estudiosos da área da saúde se dediquem a entender e detalhar a questão. No mês de abril, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, das universidades federais de Minas Gerais, da Bahia e do Recôncavo Baiano e da Universidade College London divulgaram um estudo na The Lancet Regional Health - Americas, uma importante revista científica.
Entre as conclusões da pesquisa está o crescimento do sobrepeso e da obesidade nas crianças brasileiras ao longo dos anos 2000. Para isso, os cientistas analisaram o Índice de Massa Corporal (IMC) de quase 6 milhões de pessoas de 3 a 10 anos de idade, nascidas entre os anos de 2001 e 2014. As informações foram retiradas de três registros públicos: o Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico), o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).
Os pesquisadores apontaram que cerca de 30% dos meninos e 26% das meninas que nasceram entre 2008 e 2014 apresentavam excesso de peso. Entre os nascidos de 2001 a 2007, as taxas eram menores, mas já chegavam a 26,8% e 23,9%, respectivamente. Para se ter uma ideia, pesquisas realizadas entre as décadas de 1980 e 1990 indicavam que cerca de 5% das crianças brasileiras apresentavam excesso de peso.
Um problema coletivo
Professor da Escola de Enfermagem da UFMG e pesquisador, Gustavo Meléndez explica que o aumento do peso corporal está ligado a um desequilíbrio na conta entre o consumo calórico e o gasto energético, e que esta equação faz parte de um contexto que envolve não apenas o indivíduo, mas também a família, a sociedade, a economia e a política.
Os dados utilizados no estudo divulgado no The Lancet Health Regional- Americas se concentram na população de baixa renda, o que é bastante preocupante. Essa parcela da população tem menos acesso a uma alimentação adequada e aos recursos para lidar com o problema do sobrepeso e da obesidade.
Muitas vezes, a insegurança alimentar leva famílias a escolher alimentos mais baratos e menos nutritivos, como é o caso dos ultraprocessados, produtos industrializados que recebem excesso de sal, açúcar, gordura, além de aditivos, como corantes e aromatizantes. A pesquisa aponta para um aumento do consumo desses produtos pelas crianças. Sucos de caixinha, refrigerantes, biscoitos recheados e salgadinhos de pacotes são alguns dos exemplos.
Outro fator que vem contribuindo para o aumento do sobrepeso e da obesidade infantil é o sedentarismo. Com a popularização de dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e videogames, as crianças estão passando menos tempo em atividades físicas e mais tempo conectadas. A falta de segurança e de espaços públicos adequados para brincar também colaboram para o sedentarismo entre as crianças.
O aumento de peso já na infância pode trazer sérias consequências para a saúde. O estudo aponta que crianças com sobrepeso e obesidade têm maior risco de desenvolver precocemente doenças crônicas como diabetes tipo 2 e hipertensão, além de infarto, AVC e câncer. Podem surgir também problemas emocionais, como baixa autoestima e depressão.
Por isso, o aumento da obesidade na infância não deve ser uma responsabilidade direcionada à própria criança ou à família, mas é consequência da forma como vivemos.Políticas públicas, educação nutricional, incentivo à atividade física e melhoria do acesso a alimentos saudáveis podem ajudar a reverter essa tendência preocupante. É fundamental que todos os setores da sociedade se unam para garantir um futuro mais saudável para as crianças.
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